Idosos que se mantêm afastados das relações sociais têm risco de morte aumentado
Idosos que se isolam apresentam mais problemas de pressão, memória e complicações cardiovasculares, indica estudo americano
Mais do que triste, a solidão é perigosa para a saúde dos idosos. Uma pesquisa do psicólogo John Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA), indica que a extrema solidão é tão prejudicial ao corpo quanto a obesidade e aumenta em 14% o risco de morte prematura de quem chegou à terceira idade. Os resultados colocam o isolamento como um fator de risco tão potente quanto a situação socioeconômica desfavorecida, que eleva em 19% as chances de morte precoce. Cacioppo apresentou esses resultados, no início deste mês, durante o congresso American Association for the Advancement of Science Annual, evento ligado à editora da revista científica Science.
“As pessoas subestimam a importância de compartilhar bons momentos com amigos e família”, observa o autor. Mais do que companheirismo, Cacioppo afirma que, independentemente do estágio da vida, são necessárias a assistência e a proteção mútua. Por isso, ter relacionamentos de qualidade é uma das chaves para a felicidade e a longevidade. “As tensões e os desafios da vida são suportados mais facilmente se podemos compartilhá-los com alguém em quem podemos confiar”, diz o especialista.
Conduzida entre 2010 e 2013, a pesquisa teve como base questionários aplicados a mais de 2,1 mil adultos com mais 55 anos. Os voluntários responderam a perguntas sobre origem, estado civil, renda e vida social. Durante todo o tempo, foram submetidos a checapes, o que permitiu o monitoramento do estado de saúde deles. Cacioppo conta que encontrou diferenças relevantes nas taxas de declínio da saúde física e mental entre os participantes mais solitários. Os sintomas mais comuns são insônia, depressão, aumento da pressão arterial e dos níveis de cortisol — o hormônio do estresse, responsável por cumprir papel essencial nas respostas de situações de perigo.
Wilson Jacob Filho, coordenador do Núcleo de Geriatria do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, explica que emoções como medo ou ansiedade, dois sentimentos comuns na solidão, perturbam o sistema nervoso autônomo, região que controla a respiração, a circulação do sangue e o controle de temperatura, por exemplo. “Quando se está ansioso, o ritmo respiratório muda, o apetite aumenta, a pessoa come mais e também vai mais ao banheiro”, descreve.
Essas respostas orgânicas aos estados emocionais são chamadas de doenças psicossomáticas. “Muito frequentemente, o paciente que chega ao consultório apresenta esses sintomas e se queixa que eles passaram a ocorrer com a depressão, depois do falecimento do cônjuge ou quando os filhos saem de casa. Pode existir uma maior sensibilidade à dor, predisposição à infecção e maior descontentamento porque a solidão é um exacerbador dessas condições, tornando-as mais evidentes”, explica o geriatra.
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