segunda-feira, 18 de agosto de 2014

FELIZ IDADE NAMORAR

Na feliz idade muitas vezes com filhos, netos e até bisnetos, sentimos solidão, sentimos a ausência de um companheiro(a) com quem trocar atenção, momentos de carinho, de afeto. Temos o amor dos nossos descendentes, mas falta aquela pessoa de todas as horas com quem podemos jogar conversa fora. Lembrar tempos de outrora dos quais nossos descendentes não tem conhecimento. Aquela pessoa que nos dá o prazer de conservar a beleza e a vaidade que ainda temos, Idosos estão vivos e precisam  compartilhar a vida com um companheio.Maria Aparecida Costa, de 84 anos, e Antônio Mário da Costa, de 92, resolveram deixar filhos e netos de lado e se dedicar ao relacionamento  (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Maria Aparecida Costa, de 84 anos, e Antônio Mário da Costa, de 92, resolveram deixar filhos e netos de lado e se dedicar ao relacionamento

Numa das cenas finais do filme 'O amor nos tempos do cólera', adaptação do livro homônimo de Gabriel García Marquez para o cinema, a atriz Fernanda Montenegro, que vive o papel da octogenária Fermina Daza, tira sua roupa aos poucos e se prepara para dormir pela primeira vez com o também octogenário Florentino Ariza, namorado que abandonara na juventude. O romance, o preferido do autor, conta a belíssima história de um amor tardio. Em 1985, ao publicá-lo, talvez Gabo não imaginasse que de alguma forma estava escrevendo sobre o futuro. Como os protagonistas do livro, um batalhão de homens e mulheres que entraram na terceira idade estão quebrando tabus ao descobrir e redescobrir o amor. O movimento se acentuou nos últimos 20 anos, derrubando o mito da velhice assexuada.

Para Guita Grin Debert, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do estudo “Velhice, violência e sexualidade”, isso se deu em muitos campos. “Estudos de várias áreas comprovaram que a sexualidade não se esgota com o passar dos anos. É indiscutível o declínio da frequência das relações sexuais, mas emerge, por outro lado, a percepção de que a qualidade dessas relações pode aumentar”, sustenta. O trabalho aponta que nessa faixa estária os encontros podem ser mais livres e afetuosos. Além disso, os papéis tradicionais de gênero tendem a se inverter. “As mulheres passam a ser menos recatadas e os homens, mais afetuosos. Nas sensações também há mudanças. O prazer estaria espalhado pelo corpo, ocorrendo um processo de desgenitalização”, explica.

A nova realidade pode ser facilmente comprovada na prática. Às quartas-feiras à tarde e aos sábados de noitinha, associados do Clube da Maturidade, criado em Belo Horizonte exatamente no ano em que García Marquez lançava O amor nos tempos do cólera, reúnem-e para dançar e se divertir num salão de festas. O chão, quadriculado em preto e branco, empresta charme ao local. À esquerda, dançam luzes e casais. À frente, o que se vê são mesas e, nelas, mais casais.

Alguns, como Maria Aparecida Costa, de 84 anos, e Antônio Mário da Costa, de 92, são companheiros de vida inteira e passaram a frequentar o local porque sentiram necessidade de voltar a fazer coisas juntos, independentemente da família e dos antigos amigos. Outros, como José Alves Cardoso, de 75, e Maria Eugênia Pessoa, que não revela a idade, conheceram-se ali depois de quase uma vida inteira e hoje experimentam uma nova história de amor.

Sim. Ao chegar à terceira idade, é cada vez maior o número de pessoas que namoram, descobrem um velho amor ou um novo amor, casam-se novamente, fazem novas amizades e levam uma vida social intensa para jovem nenhum botar defeito. Fato que confirma a suspeita do comandante do barco que levou Fermina Daza e Florentino Ariza a subir e descer o rio para sempre em O amor nos tempos do cólera: “É a vida, mais do que a morte, que precisa ser vivida.

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