Continuando a história da menina.
Em uma época de eleição, ele registrou os seis filhos mais velhos. A mãe da menina escreveu o nome e a data de nascimento para ele levar ao cartório, porém ele bebeu e perdeu o papel. No cartório trocou o nome dos filhos e a data de nascimento. A menina recebeu o nome da tia mais nova, aliás esse era também o nome de sua avó, mas sua idade foi aumentada em dois anos, fato que mais tarde lhe trará grande sofrimento.
A mudança foi tão radical que tinha filho batizado Gerson e virou Francisco, Oswaldo virou Joaquim, todos tiveram nome ou data de nascimento mudado ou mesmos os dois.
O pai da menina e seus irmãos mais velhos sempre iam para o interior de São Paulo para trabalhar, as vezes passavam alguns meses fora de casa, tal como fazem os cortadores de cana e apanhadores de café atualmente.
Em meados de mil novecentos e cinquenta e dois ele resolveu mudar com toda a família para o interior de São Paulo, foram ser colonos do senhor Okida. Levaram apenas alguns pertences, tais como louças, talheres, roupas etc.
O pai e os irmãos da menina cortaram varas e estacas, fizeram jiraus onde foram colocados colchões de palha para dormir. Era um negócio muito feio e era chamado de péla porco.
A casa era de pau a pique e tinha barbeiro, percevejo e muita pulga que sugava o sangue de todos a noite. A pobre mãe quase não dormia velando pelo sono de seus filhos para que não fossem picados por barbeiro, que ali era conhecido como chupança, graças a Deus ninguém da família teve mal de Chagas.
Em mil novecentos e cinquenta e três, a menina entrou para a escola, sua primeira professora foi Dona Mercedes. Usava sempre saia preta, sapato preto fechado e blusa branca. A menina não deu trabalho para ser alfabetizada, tinha fome de aprender, apesar de andar três quilômetros a pé até a escola e muitas vezes com fome. Naquele tempo não havia merenda escolar como hoje. As crianças muito carentes recebiam duas blusas brancas, uma saia pregueada, dois pares de meias brancas, um par de sapatos. e dois laços de fita branca. O uniforme era obrigatório. e recebiam merenda na escola. A cada seis meses havia o lombrigueiro era obrigatório também. Aquilo era um terror, era uma capsula para cada dois anos de idade, ia para a escola em jejum no sábado do lombrigueiro. Quando a capsula abria no estômago era um gosto forte de mastruz na boca. Quanto ao uniforme e merenda a família da menina tinha direito, eram muito pobre.
Quando o pai da menina comprava calçados para os filhos estes eram de uma espécie de lona e a sola era de corda, quando pisava não fazia barulho, por isso era chamado de pé de cachorro.
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