Vida na roça, interior de SP
A família da menina plantava sete alqueires de roça, sendo cinco de algodão e dois de arroz. Em mil novecentos e cinquenta e três choveu muito na época da colheita do algodão, foi grande a perda. Para a safra de mil novecentos e cinquenta e quatro o pai da menina inverteu, plantou cinco alqueires de arroz e dois de algodão. O arrozal cresceu lindo, começava no terreiro da casa e se estendia a perder de vista. Era grande a expectativa de uma boa colheita. Mas Deus escreveu em algum lugar que eles teriam que sofrer, bem na época em que o arroz cacheia fez quarenta dias de sol e toda a lavoura tão linda virou capim seco. Desta época a menina guarda na memória a triste lembrança da música que as crianças cantavam em procissão, carregando uma garrafa de água na cabeça para molhar uma cruz que havia na beira da estrada e pedir a Deus que mandasse chuva.
A chuva do céu
Chove sem demora
Vale-nos Deus menino
Vale-nos Nossa Senhora.
Diziam as senhoras que as meninas inocentes tinham que andar no sol do meio dia, carregando água para molhar a cruz e assim alcançar a graça da chuva, porém de nada adiantou pois toda a safra foi perdida e todos passaram fome, pois o patrão viajou para o Japão e cortou o crédito dos colonos.
Ainda hoje, a menina chora quando vê a seca arrasando o nordeste e os pobres trabalhadores sofrendo. Ela tem o maior carinho e amor aos nordestinos, pois já sofreu na carne um pouquinho da dor que eles sofrem, ou seja uma pequena migalha da dor deles, pois ali havia água e para eles ela falta.
No dia sete de setembro de mil novecentos e cinquenta e quatro a família mudou para outra fazenda. O pai tirou a menina da escola e ela ficou sem estudar, onde foram morar não havia escola perto.
A menina chorou muito, pois naquele ano a filha da diretora havia dito que seria doutora quando crescesse e ela toda empolgada disse que também seria, mas ouviu como resposta que ela era pobre e preta e não seria nunca. Em casa a menina disse para sua mãe o que queria ser quando crescesse mas ouviu da mãe que doutor era profissão de homem e de homem rico, que se um dia ela fosse professora deveria agradecer muito a Deus.
Para a menina deixar a escola foi muito triste. Mas o pai sempre dizia que menina tinha que aprender a lavar, passar, cozinhar, costurar, etc. Ela já sabia demais, além de fazer o nome sabia ler e escrever.
A menina é teimosa e insiste com seu irmão do coração que já havia concluído o primário que a ajudasse ler mais, fazer contas, escrever e ele com prazer a ensinava. Ela lia tudo que encontrava, pedaços de revistas velhas, O CRUZEIRO era uma delas, pedaços de jornais velhos, naquele tempo se embrulhava compras em jornais, revistas velhas.
A menina insistia nas contas queria sempre aprender mais.
Esta foto é de uma lavoura de arroz cultivada no seco, era muito usado no interior de SP, no sul plantam também na água.
Lavoura de arroz nova.
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